Conteúdo principal Menu principal Rodapé
Público presente na cerimônia de premiação da terceira edição do PRADH
Público presente na cerimônia de premiação da terceira edição do PRADH

Em cerimônia realizada nesta segunda-feira (22), 15 pesquisadores receberam o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Unicamp e Instituto Vladimir Herzog (Pradh). O Pradh também homenageou, com prêmios honorários, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, a pesquisadora Adriana Dias (in memorian), o indigenista Bruno Pereira (in memorian) e o jornalista britânico Dom Phillips (in memorian). Essa foi a terceira edição do Pradh, que tem como objetivo reconhecer pesquisas comprometidas com os direitos humanos.

“[O prêmio] vem anualmente renovar um compromisso, do conhecimento comprometido com o respeito à vida em todas as suas dimensões, e assume seu papel transformador por perseguir das mais variadas formas a consolidação da vida digna para todos os seres existentes. É isso que as 15 pesquisas premiadas hoje nos mostram”, afirmou a coordenadora do Observatório de Direitos Humanos da Unicamp, professora Josianne Cerasoli.

Presidente da Comissão Avaliadora do Pradh, a professora Angela Lucas destacou a dedicação dos membros da comissão na análise dos 132 trabalhos inscritos e a diversidade de temas abordados nas pesquisas. “Foram mais de 40 avaliadores das cinco áreas do conhecimento, que fizeram esse trabalho com muito comprometimento e muita atenção. É uma alegria ver que vários assuntos e temas que são caros para a área de direitos humanos estão sendo pesquisados de maneira muito madura, comprometida e atenciosa. Isso vai gerar muitos frutos para o nosso futuro.” Da Comissão Avaliadora, também esteve presente o advogado Flávio de Leão Bastos Pereira, representando a Ordem dos Advogados do Brasil – São Paulo (OAB-SP).

A presença da comitiva de 12 membros do Instituto Vladimir Herzog possibilitou também uma reunião, após a premiação, com representantes da DeDH. O objetivo foi debater novas parcerias.

Estatueta recebida pelos premiados da terceira edição do PRADH
Troféu oferecido aos premiados da terceira edição do PRADH

Honrando o legado de Vladimir Herzog

A diretora da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH), Silvia Santiago, ressaltou o legado de Vladimir Herzog na luta pela emancipação da sociedade e na constituição de cidadãos de direito. “Anos depois estamos aqui para lembrar dessa missão, especialmente de uma instituição pública de ensino, pesquisa e extensão como a Unicamp, que se associa ao Instituto Vladimir Herzog para apoiar e celebrar o esforço que professores, estudantes e pesquisadores fazem para cumprir esse destino e contribuir para uma sociedade melhor.”

O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, e o diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sotilli, também destacaram a luta pela democracia e a valorização do legado de Herzog por meio do prêmio.

“Para quem viveu a década de 1970, a luta contra a ditadura e contra o regime militar, são momentos como este que nos lembram do significado disso na nossa história, do significado do Vladimir Herzog e do instituto em manter viva essa memória. É um orgulho também para uma Universidade que se caracterizou pela luta democrática poder compartilhar um prêmio que mantém viva essa história”, disse Meirelles, que também ressaltou a valorização do conhecimento desenvolvido em todas as áreas do conhecimento e em todos os níveis de formação das universidades, da graduação ao doutorado.

“Nosso sonho por uma sociedade fundada nos valores dos direitos humanos que tem como base a solidariedade, a promoção e a defesa da democracia é o sonho e é o legado de Vladimir Herzog. Então, para nós, realizar esse prêmio, não é só uma alegria, mas um compromisso de defender o legado do Vlado, que deu sua vida na defesa da democracia e dos direitos humanos”, afirmou Sotilli.

Ele ainda comentou o fato de o Pradh estar sendo realizado pela primeira vez de forma presencial. “Nós fazemos esta cerimônia no mesmo mês em que a Organização Mundial da Saúde declarou o fim do estado de emergência da pandemia do coronavírus. É o fim de um período trágico e de um momento em que a ciência e os direitos humanos foram imprescindíveis, como nunca, e ao mesmo tempo tão atacados, também como nunca.”

Ivo Herzog, diretor do Conselho Deliberativo do IVH e filho do jornalista: foco na educação
Ivo Herzog, diretor do Conselho Deliberativo do IVH e filho do jornalista: foco na educação

Pesquisas abordam problemas estruturais do Brasil

Foram contempladas 15 pesquisas de cinco áreas do conhecimento: Ciências Exatas, Engenharia e Tecnologia; Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências Humanas, Sociais e Econômicas; Artes, Comunicação e Linguagem; e Educação. Os temas abordados envolvem assuntos como violência de gênero e racial, sustentabilidade e inclusão.

“[Essas temáticas] são questões estruturais do Brasil, da sua história de séculos, como a questão de raça, da escravidão e dos indígenas. E o Brasil nunca trabalhou para se redimir e repactuar a sociedade. Ter pesquisadores colocando um olhar colabora para o fortalecimento de uma sociedade mais democrática e mais inclusiva”, observa Ivo Herzog, diretor do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog e filho do jornalista.

Ele conta que a área da educação é considerada a área mais estratégica do Instituto. “Ter uma universidade como a Unicamp como parceira é o sonho que se tornou realidade. Os trabalhos criam canais para que possamos trazer esse conhecimento para aplicar na sociedade”, avalia.

A graduanda em Artes Cênicas, Rafaela Gomes, durante apresentação de slam, ao final da cerimônia de premiação

Homenagens

Os homenageados foram a pesquisadora Adriana Dias, Bruno Pereira e Dom Phillips e o ministro Silvio Almeida.

Viúvo de Dias, Marcelo Higa recebeu o prêmio concedido à esposa. “O tema dos direitos humanos sempre lhe foi caro, mesmo antes de pesquisar os grupos de ódio”, lembrou.

Beatriz Matos, viúva de Bruno, enviou um vídeo agradecendo a homenagem, assim como Alessandra Sampaio, viúva de Dom. “Mando este vídeo para agradecer o prêmio e o reconhecimento pela luta do Bruno e do Dom”, disse Matos.

“Fiquei muito feliz com esse prêmio dado ao Dom e ao Bruno. Achei sensacional, ainda mais vindo de uma universidade pública onde há o protagonismo indígena também”, afirmou Sampaio, para quem a homenagem afirma a presença ainda do legado de ambos.

Silvio Almeida enviou um vídeo em que explica o funcionamento do racismo estrutural no Brasil.

A cerimônia de premiação foi finalizada com a apresentação de slam da graduanda em Artes Cênicas Rafaela Gomes.

Jornal da Unicamp publica reportagens sobre pesquisas premiadas

A fim de divulgar as pesquisas contempladas no III Pradh, o Jornal da Unicamp está produzindo reportagens sobre os trabalhos publicadas em suas edições, cuja periodicidade é quinzenal. Já foram publicadas matérias sobre duas pesquisas: “Fatores de risco para feminicídios na cidade de Campinas: revisão de literatura, estudo caso-controle espacial e análise qualitativa”, de Monica Caicedo Roa (Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp) e “Tecendo vozes e B.O.s: a ressemiotização da violência semiótica contra a mulher em redes sociais online”, de Camila Rebecca Busnardo (Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp).

Confira a lista com todos os contemplados:

Prêmios Honorários

Marcelo Seiko Higa recebeu o prêmio de sua esposa Adriana Dias; homenagem póstuma, por suas importantes pesquisas e incansável luta contra o extremismo e pela defesa da inclusão e diversidade
Marcelo Seiko Higa recebeu o prêmio de sua esposa Adriana Dias; homenagem póstuma, por suas importantes pesquisas e incansável luta contra o extremismo e pela defesa da inclusão e diversidade

Adriana Abreu Magalhães Dias formou-se em Ciências Sociais na Unicamp e realizou o mestrado e o doutorado em Antropologia também na Unicamp. Obteve reconhecimento no país por sua pesquisa em relação ao neonazismo. Dias descobriu a existência de pelo menos 334 células nazistas no Brasil, organizadas em ambiente virtual. Também encontrou uma carta do ex-presidente Jair Bolsonaro endereçada aos grupos nazistas e na qual ele afirma: “Vocês são a razão da existência do meu mandato”. A antropóloga era portadora de osteogênese imperfeita, uma doença genética rara, e foi ativista pelos direitos de pessoas com deficiência e doenças raras. Fundou o Instituto Baresi, fórum nacional congregando pessoas com doenças raras, deficiências e outros grupos de minoritários. Dias faleceu em janeiro de 2023. Ao longo de sua trajetória, também coordenou o Comitê Deficiência e Acessibilidade da Associação Brasileira de Antropologia e integrou a American Anthropological Association e a Frente Nacional de Mulheres com Deficiência. Além disso, foi membro da Associação Vida e Justiça de Apoio às Vítimas da Covid-19, participou de audiências da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara de Campinas que investigava crimes nazifascistas e participou da equipe de transição do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022.

Bruno da Cunha Araújo Pereira e Dominic Mark Phillips, assassinados no Vale do Javari em 2022, em homenagem póstuma. Bruno, pela sua luta a favor dos indígenas isolados e da preservação do meio ambiente. Dom Philips, jornalista inglês, pela sua liderança em investigações sobre desmatamento no Brasil.

A viúva do indigenista Bruno Pereira, Beatriz Mattos, durante agradecimento pelo prêmio
A viúva do indigenista Bruno Pereira, Beatriz Mattos, durante agradecimento pelo prêmio

Bruno da Cunha Araújo Pereira era indigenista e atuava junto a povos indígenas na Amazônia, na região do Vale do Javari. Fez carreira na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (antiga Fundação Nacional do Índio, Funai) e era especialista em povos isolados. Na Funai, tornou-se em 2018 o coordenador geral da área de Índios Isolados e de Recém-Contatados. No ano seguinte, no entanto, após coordenar uma megaoperação de combate ao garimpo, foi exonerado pelo governo Bolsonaro e passou a trabalhar junto à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Junto à organização, atuou na guarda do território indígena. O indigenista foi assassinado em junho de 2022, junto como Dom Phillips.

A viúva de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, enviou vídeo de agradecimento pelo prêmio oferecido ao jornalista
A viúva de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, enviou vídeo de agradecimento pelo prêmio oferecido ao jornalista

Dominic Mark Phillips, conhecido como Dom Phillips, foi jornalista e trabalhou para jornais como The Washington Post, The New York Times e Financial Times. Morou em Israel, na Grécia e na Dinamarca e mudou-se para o Brasil em 2007. Na ocasião do assassinato, trabalhava em um livro sobre o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Em sua carreira, também contribuiu para uma investigação do The Guardian sobre as fazendas de gado e o desmatamento no Brasil. Em Salvador, última cidade de residência do jornalista, Dom também lecionava aulas de inglês em um cursinho popular. No início da carreira jornalística, cobriu temas relacionados à música. No Brasil, ele reportou os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Depois disso, passou a cobrir essencialmente questões ligadas à crise ambiental e seus impactos nas populações originárias e tradicionais.

Silvio Almeida, homenageado por sua pesquisa, que identifica as bases do racismo estrutural, lançando luzes para políticas públicas antirracistas, e pelo resgate de importantes figuras históricas negras, como Luís Gama
Silvio Almeida, homenageado por sua pesquisa, que identifica as bases do racismo estrutural, lançando luzes para políticas públicas antirracistas, e pelo resgate de importantes figuras históricas negras, como Luís Gama

Silvio Luiz de Almeida, atual Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do governo Lula, é advogado, filósofo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Fundação Getúlio Vargas. Formou-se em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Fez o mestrado em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorou-se em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP. Foi professor visitante da Universidade de Duke (2020) e de Columbia (2022). Uma de suas obras de maior destaque é o livro Racismo Estrutural, em que aborda a constituição do racismo na estrutura social. Preside o Instituto Luís Gama, organização que desenvolve ações de combate ao preconceito e de defesa dos direitos dos negros e das minorias. Também atuou na Frente Pró-Cotas e foi um dos responsáveis pela formulação das políticas de ação afirmativa do Estado de São Paulo.

Ciências Exatas, Engenharia e Tecnologia

Pesquisa de graduação: “Investigação de ações em sustentabilidade em universidades públicas federais nos eixos água, energia e resíduos”, de Iara Ivana Pereira, Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (Campus São Carlos) da Universidade Federal de São Carlos

Pesquisa de mestrado: “Aprendizado auto-supervisionado para reconhecimento de cenas em imagens de abuso sexual infantil”, de Pedro Henrique Vaz Valois, Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de doutorado: “Foodômica para agricultura sustentável: diferenciação do perfil de voláteis de hortelã e feijão carioca cultivados pelos sistemas agrícolas convencional, orgânico e permacultura, usando hs-spme/gc-ms e quimiometria”, de Luan Felipe Campos Oliveira, Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas

Ciências Biológicas e da Saúde

Pesquisa de graduação: “Construção e validação de cartilha em libras sobre saúde sexual e reprodutiva para mulheres surdas”, de Juliana Maria Teobaldo Martins, Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista

Pesquisa de mestrado: “Gestação e covid-19: a cor da pele importa? Uma análise do estudo rebraco”, de Amanda Dantas Silva, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de doutorado: “Fatores de risco para feminicídios na cidade de Campinas: revisão de literatura, estudo caso-controle espacial e análise qualitativa”, de Monica Caicedo Roa, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

Ciências Humanas, Sociais e Econômicas

Pesquisa de graduação: “Lugar de mulher: experiência e projeto da casa Laudelina de Campos Melo”, Helena Sá Barretto Prado Garcia, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Pesquisa de mestrado: “Produção do espaço urbano e equipamentos comunitários públicos de educação, saúde e assistência social: um estudo da dinâmica urbana de Limeira/SP”, de Noan Sallati, Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de doutorado: “Quem sangra na fábrica de cadáveres? As chacinas em São Paulo e RMSP e a chacina da torcida organizada Pavilhão Nove”, de Camila de Lima Vedovello, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas

Artes, Comunicação e Linguagem

Pesquisa de graduação: “Folha de S. Paulo e os 50 anos do golpe militar: a memória jornalística de mulheres militantes”, de Caroline Cavalleiro Campos, Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (Campus de Bauru) da Universidade Estadual Paulista

Pesquisa de mestrado: “Tecendo vozes e B.O.s: a ressemiotização da violência semiótica contra a mulher em redes sociais online”, de Camila Rebecca Busnardo, Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de doutorado: “Nomear o humano: a migração como acontecimento discursivo”, de Giulia Mendes Gambassi, Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas

Educação

Pesquisa de graduação: “Ensino inclusivo do tema modelos atômicos por meio de história em quadrinhos em Braille e materiais manipuláveis” de João Pedro Ponciano, Faculdade de Ciências (Campus Bauru) da Universidade Estadual Paulista

Pesquisa de mestrado: “Ensino de história e cultura afro-brasileira: de pauta do movimento negro à lei 10.639”, de Adriano Bueno da Silva, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de doutorado: “Sonhos de adolescentes em desvantagem social: vida, escola e educação matemática”, de Daniela Alves Soares, Instituto de Geociências e Ciências Exatas (Campus de Rio Claro) da Universidade Estadual Paulista

Autoria: Liana Coll

Fotos: Antonio Scarpinetti

Edição de Imagem: Paulo Cavalheri


Reprodução: Portal da Unicamp (publicado em 23/05/2023)

Ir para o topo